APRESENTAÇÃO

Prezados amigos e amigas,

Em primeiro lugar sejam muito bem-vindos ao nosso blog.

Essa nossa iniciativa tem por finalidade ser um canal de comunicação com todos aqueles que se interessarem e quiserem trocar idéias sobre diversos assuntos ligados à nossa querida Igreja Católica (sua doutrina, assuntos polêmicos, estudo e formação etc).
Vamos juntos alicerçar a nossa fé, naquele que é " O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Fiquem com a Paz de Jesus Cristo e o Amor de Nossa Senhora.

Um grande abraço a todos.

José Vicente Ucha Campos
Contato: jvucampos@gmail.com

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A IMPORTÂNCIA DA DIREÇÃO ESPIRITUAL

P: Qual a importância da direção espiritual?
R: A grande necessidade da direção espiritual tem seu fundamento remoto nas Sagradas Escrituras, sua proclamação na tradição e sua razão intima na natureza de nossa vida espiritual e o modo ordinário de obrar da Providencia divina.

Nas Sagradas Escrituras temos conselhos e exemplos de certa direção espiritual:

-Tb 4,18: “Busca o conselho de toda pessoa sensata, e não desprezes nenhum conselho salutar”.
-Eclo 37,23: “O verdadeiro sábio ensina a seu próprio povo, e os frutos de sua inteligência são garantidos”.

-Si 21,13.17: “A ciência do sábio aumenta como uma inundação, e seu conselho é como uma fonte viva... A palavra do sensato é procurada na assembleia, e a suas palavras são mediatas ao coração”.
A isto se deve acrescentar os exemplos bíblicos, como Samuel que aprendeu de Heli (cf 1 Sam 3,1-18), Cornélio de São Pedro (cf. At 10,1-43), São Paulo de Ananias (cf 9,10-19), etc. O exemplo mais importante é o do mesmo Cristo que ensinou a doutrina a seus discípulos pelo caminho da vida espiritual: que não lhes fala (as pessoas) senão em parábolas; mas a seus discípulos lhes explicava todas as parte (Mc 4,34).

Na tradição da Igreja, a prática dos que aspiram a perfeição, e que tenham um guia espiritual se remonta nos primeiros séculos quando os grandes diretores das almas foram os monges do deserto: os Santos Pacônio, Dositeo, Sabas, Doroteo, João Climaco, João Damasceno, etc., foram todos grandes mestres do espirito. Inclusive os seculares, exemplo os imperadores como cabeça, fizeram direção espiritual, como nos lembram as tradições monásticas e as coleções de seus apotegmas. 

A doutrina da direção espiritual nasce com eles e continua sem interrupção ao longo de toda a história da Igreja até os nossos dias. Entre os monges do deserto a direção espiritual chegou a ser considerada não como um privilégio senão como um estrito dever do homem que se retira a solidão; e a privação do conselho espiritual dos anciões ou a falta absoluta de sinceridade com eles era vista como ocasião segura de ilusões, exagerações e erros funestos. 

Santo Antônio abade dizia: “Tenho visto monges que, depois de muitos anos de trabalho, caíram e chegaram até a loucura por ter contado com suas próprias obras e não ter aceitado o mandamento de Deus que diz: “Recorda os dias que se foram, repassa gerações e gerações... Pergunta a teu pai e ele te contará, interroga aos anciãos e eles te dirão”. (Dt 32,7)![1] Paládio, na historia “lausiaca” escreve: “Os que faltam a direção, caem como as folhas que o vento empurra sem um rumo fixo”[2]. 

Os apotegmas dos Padres nos permitem vislumbrar o modo corrente em que se realizava a direção, pois a grande maioria destes “ditos espirituais” são os relatos de “direções” feitas pelos grandes monges. Elas consistiam, ao parecer, simplesmente em uma visita de um monge novato a um ancião, uma pergunta e uma breve resposta. A austeridade do monaquismo, como o entendiam os primeiros monges, e o temor de falar inutilmente, impunha a este exercício uma grande sobriedade e gravidade. 

Nas linhas gerais, esta grande corrente passou substancialmente inalterada aos posteriores mestres do espirito[3]. Um século mais tarde São Bernardo chegou a dizer: “Quem se constitui mestre e diretor de si mesmo, se faz discípulo de um néscio... Não sei o que pensarão os demais sobre isto, mas de minha parte direi, por experiência própria, que é muito mais fácil dirigir a outros, do que a mim mesmo”.[4] 

Dizia São Vicente Ferrer: “Jesus nunca ortogará sua graça, sem a qual não podemos fazer nada, a quem tendo a sua disposição um homem capaz de instruir-lhe e dirigir-lhe, despreza esta ajuda, persuadido de que se bastara a si mesmo e que encontrará por si só o que é útil para a salvação”[5] E acrescenta, no mesmo lugar, que pelo contrario, “quem tivesse um diretor, ao qual obedecesse em tudo e sem reserva, chegará muito mais facilmente e mais rápido a santidade do que por si só, ainda que fosse de engenho bem desperto e que tivesse nas mãos vários livros de matéria espiritual[6].

Na antiga idade média uns exemplos singulares de direção espiritual se encontram nas cartas de Santa Catarina de Sena; São Vicente Ferrer que fala da importância da direção em seu opúsculo Da vida espiritual.[7] Mais tarde em pleno século de ouro espiritual espanhol, Santa Teresa desenvolveu a doutrina e os critérios práticos da direção espiritual em algumas obras (por exemplo, Moradas, vida, Caminho de perfeição); e o mesmo fez São João da Cruz (de modo particular em subida ao monte Carmelo, Chama de amor viva, cântico espiritual). Particularmente digna de destacar é a obra de São João de Ávila, admiravelmente resumida pela sua obra Audi Filia.

No século XVII a prática da direção espiritual estava muito estendida e teorizada por autores como Alonso Rodríguez, Alvarez de Paz, Ludovico da Ponte, São Francisco de Sales, Fenelón, Bossuet, Olier, etc.

O Magistério da Igreja tem confirmado esta pratica com sua autoridade, recomendando-a e inclusive prescrevendo-a em determinados casos.

Por exemplo, o Catecismo da Igreja Católica diz: “O Espirito Santo dá a certos fieis dons de sabedoria, de fé e de discernimento dirigidos a este bem comum que é a oração (direção espiritual). Aqueles e aquelas que têm sido dotados de tais dons são verdadeiros servidores da tradição viva da oração. 

Mas isso, a alma que quer avançar na perfeição, segundo o conselho de São João da Cruz, deve ‘olhar em cujas mãos se coloca, porque qual for o mestre tal será o discípulo e qual o pai tal o filho’. E acrescenta que o diretor ‘ademais de ser sábio e discreto, tem que ser experiente... Se não tem experiência do que é verdadeiro e puro espirito, não conseguirá encaminhar a alma neste caminho, quando Deus o pede e, nem ainda entenderá’[8]. A Presbiterorum Ordinis ao falar do trabalho para despertar vocações sacerdotais disse que “para chegar a este fim, é de maior utilidade a diligente e prudente direção espiritual”[9]; outros documentos indicam como meio ideal para que cada jovem adquira uma “educação da interioridade”[10]. E ao mencionar os meios para fomentar a própria vida espiritual recomenda que “estimem altamente a direção espiritual”.[11] 

Por sua parte diversos documentos a recomendam para a formação adequada aos seminaristas, especialmente na ordem ao celibato sacerdotal.[12] O mesmo se diz dos religiosos.[13]


O Papa João Paulo II, fazendo eco disto, disse: “Na própria vida não faltam às obscuridades e inclusive debilidades. No momento da direção espiritual pessoal. Se se fala confiadamente, e se expõem com simplicidade as próprias lutas interiores, irá sempre adiante, e não haverá obstáculo nem tentação que possa nos separar de Cristo”.[14] 

A exortação Pastores dabo vobis, falando da direção espiritual, diz que “é necessário redescobrir a grande tradição do acompanhamento espiritual individual, que sempre tem dado tanto e tão preciosos frutos na Igreja. Em determinados casos e em precisas condições, este acompanhamento poderá ver-se ajudado, mas nunca substituído, com formas de analises ou de ajuda psicológicas”[15].

Na exortação apostólica Post sinodal Ecclesia in America, o Pontífice voltou a insistir sobre o mesmo tema: “Para amadurecer espiritualmente -dizia- o cristão deve recorrer ao conselho dos ministros sagrados ou de outras pessoas experientes neste campo mediante a direção espiritual, prática tradicionalmente presente na Igreja. Os padres sinodais acreditam necessário recomendar aos sacerdotes este ministério de tanta importância”[16].

Dos testemunhos anteriores se desprendem o principio teológico que afirma que a direção espiritual é o meio normal da providência para levar as almas a perfeição e ainda a virtude meramente sólida. Como escrevia Marmion: “Entra nos planos da adorável Providencia de Deus nosso Senhor, que sejamos guiados, não por revelações nem por anjos, senão por homens que se tem dignado dar-nos o efeito e por cuja boca tem o bem de falar-nos”[17]. 

Diz-se “meio normal” porque admite a exceção de quem, sem culpa própria, não tem ninguém que o possa dirigir. Mas os santos advertem que Deus não dá suas graças a quem tendo quem o possa instruir e dirigir, não se submete a direção alheia, por isso vemos no exemplo dos padres do deserto como, apesar da dificuldade, procuravam buscar um diretor de consciência. São Boa Ventura chega a dizer que nem mesmo o Papa pode eximir-se de ter um diretor.

(A Ciência de Deus, P. Miguel Ángel Fuentes, IVE, págs. 19-23, Edições “do Verbo Encarnado”, 2003).


[1] Apotegmas dos Padres do deserto, Antônio 37.
[2] São Paládio, historia lausiaca 27
[3] Cf. Colombás, o monacato primitivo, II, 253-256.
[4] São Bernardo, Epist.,87,7.
[5] São Vicente Ferrer, tratado da vida espiritual, p. 492.
[6] Ibid, p 491.
[7] Ibidpp 491-493.
[8] Catecismo da Igreja Católica, n°2690.
[9] Presbiterorum ordinis, 11.
[10] Cf; Congregação para a Educação Católica, Dimensão Religiosa da Educação na escola católica, 7 de abril de 1988, Enchiridion Vaticanum. 11, n°509: “o ideal seria que cada um, para adquirir uma educação da interioridade, se valessem de uma direção espiritual. 
[11] Presbiterorum oridinis, 18.
[12] Cf.Optatam totius, 2; congregação para a educação católica, Orientationes educativas para a formação ao celibato sacerdotal, 11 de abril de 1974, Enchiridion Vaticanum, 11, nn° 273,326,331.
[13] Cf. Sagrada Congregação para os institutos de vida consagrada e vida apostolica, A formação nos institutos religiosos, 2 de fevereiro de 1990, n° 63; Enchiridion Vaticanum, 12,n°80.
[14] João Paulo II, carta aos seminaristas Espanha, Valencia
[15] João Paulo II, Pastores dabo vobis, 40.
[16] João Paulo II Exortação Apostolica Postsinodal Ecclesia in America, n°29.
[17] Columba Marmion, carta do 12 de setembro de 1984; cit. Thibaut, Um Mestre...p. 283.

Fonte: Dom Nelson Ferreira